Transformação Lean: a busca por resultados a partir da cultura organizacional.

Compartilhe este artigo

O Lean, um dos assuntos mais disseminados no meio organizacional nos últimos anos, tem trazido discussões entre os profissionais mais capacitados na pauta de gestão, quanto ao seu conceito, ainda por ser algo que muitos questionam: É uma ferramenta? É um método? É uma reestruturação produtiva nas organizações? É algo específico do chão de fábrica?

Jeffrey Liker, um professor e consultor americano, escritor do best-seller O Modelo Toyota, enfatiza que “a compreensão ampla do fenômeno competitivo associado à Toyota passa pela construção de um conhecimento multifacetado da organização em cena. O modelo pode ser estudado a partir de várias perspectivas: histórica, econômica, financeira, técnica/tecnológica, da gestão, do poder e cultural”.

Portanto, podemos compreender o Lean como uma filosofia de gestão inspirada no modelo Toyota de produção, que trata de um conjunto de conhecimentos focado na capacidade de eliminar desperdícios de forma contínua, buscando resolver problemas de maneira sistemática, através das pessoas. E esse é um dos principais pilares para transformação Lean; a disponibilidade de mudança que a empresa tem de fomentar resultados através do melhor aproveitamento do potencial humano.

Visto também como um conceito que tem como base a inovação, o Lean tem sido bastante explorado, pelo seu modelo mental com base em simplicidade e por estar apoiado em metodologia ágil e por suas ferramentas e técnicas que trazem um novo olhar para a gestão e para a eficiência.

E, por tudo isso, ao tratar de mudança dentro das organizações, mudanças que implicam em repensar a forma como se lidera, como se gerencia e como se desenvolve processos, produtos e pessoas, não podemos deixar de trazer como pauta o tema: Cultura Organizacional. Além de absorver um novo jeito de fazer as coisas, a mudança quando chega, requer principalmente alterações no comportamento das pessoas, não só pela necessidade de aderir novos conceitos, mas como também pela necessidade de possuir habilidade para fazer o novo. Da compreensão à execução, existe um caminho longo que passa por crenças, pressupostos, valores e hábitos e que fazem da cultura organizacional uma matéria que deveria ser bem mais estudada, discutida e digerida nas empresas, para que os resultados pretendidos tenham um alicerce fértil e apoie a tão perseguida produtividade, um dos principais ingredientes para o resultado da “última linha” nas organizações.

Edgar Schein, um dos maiores contribuintes na área de desenvolvimento organizacional e um dos principais precursores da definição de cultura nas organizações, defende que cultura organizacional nada mais é do que a junção de características que diferenciam uma empresa ou instituição da outra. É fundamental para o direcionamento da empresa como um todo, desde deveres, obrigações e até comportamentos que deverão ser seguidos e respeitados. Tudo precisa estar claro para que todos na empresa consigam desenvolver suas atividades. É a cultura da organização que possibilitará que todos os colaboradores acreditem na empresa e se engajem na busca por melhores resultados.

Então, como uma empresa pode se predispor a mudar, sem que exista a percepção, compreensão e condução da sua cultura organizacional, quando há necessidade de implementar novos métodos, ferramentas, tecnologias e modelos mentais inovadores?

Será que as empresas atentaram que, além da busca por ferramentas e metodologias existentes nas prateleiras de soluções, é preciso um olhar bem mais subjacente na cultura organizacional que permeia essa empresa que agoniza por mudanças, mas não consegue atingir seus objetivos?

No caso do Lean, o seu método e ferramentas conseguem atender a ansiedade com soluções de curto prazo e de problemas pontuais que afligem a rotina diária das organizações e de seus gestores. Porém, se passarmos a olhar para o Lean como algo ainda maior, focados no médio e longo prazo, não só relacionados a eficiência de um ou mais processos, é possível desfrutar de ganhos ainda maiores, pois o objetivo é incorporar à cultura da empresa, os conceitos que propõem essas novas metodologias e técnicas, alinhadas com comportamentos, valores, propósitos e ainda o aprendizado organizacional. É preciso respeitar sem ansiedade a curva necessária para o aprendizado e aceitar as mudanças, apoiadas à cultura instalada, é claro. O Lean tem em sua base ferramentas transformadoras, mas o seu propósito não é ficar somente no campo da produtividade pela produtividade. O que se propõe é um Lean que transforma a empresa como um todo, não só no fazer Lean, mas também no pensar Lean, e por isso é visto como uma cultura que tem servido de modelo para muitas organizações em todo o mundo.

Concluímos que, entender cultura organizacional como algo erudito e tratá-la como old school, negligenciando sua relação com as metodologias disruptivas, ágeis e inovadoras, só aumentará o risco de insucesso da implementação desses novos conceitos, pois transformará as organizações, mas voltando ao status quo em pouco tempo, pois o novo não pereniza e é tratado apenas como moda na organização, provisoriamente maquiada por gestores que, de tão ocupados com a gestão, com suas metodologias e com novas tecnologias, não tiveram tempo para entendê-la, e acabam por incansavelmente, testar e oscilar em suas tomadas de decisões, quanto ao formato de gestão. É preciso dar um passo para dentro da organização em busca de entrelinhas e de conhecimentos, e fazendo esse dever de casa, poder dar um passo à frente na escolha e na utilização dessa gama de soluções organizacionais, que trarão uma linha ascendente na transformação rumo ao sucesso.

Artur Roseo
Diretor e Consultor na CORE’B DIRECIONAMENTO EM GESTÃO ATUOU COMO EXECUTIVO NO GRUPO EDSONQUEIROZ POR 09 ANOS. • Certificado CBPP® em Gerenciamento de Processos de Negócios (BPM) – ABPMP Internacional • Mestre em Administração e Controladoria – UFC/CE • Pós-Graduado em Consultoria Organizacional – UFC/CE • Bacharel em Administração de Empresas – UNIFOR/ CE 14 ANOS DE EXPERIÊNCIA EM IMPLEMENTAÇÃO LEAN.